O pior conflito em mais de duas décadas entre Índia e Paquistão, iniciado nesta terça-feira (6), não dá sinais de arrefecimento. Nesta quarta (7), novos ataques aéreos de Nova Déli contra o país vizinho, além de fogo de artilharia na disputada região da Caxemira, elevaram o número total de mortos para 38, de acordo com autoridades dos países.
A Índia diz ter destruído nove “campos terroristas” no Paquistão, que fala em 26 civis mortos, incluindo duas crianças, no bombardeio. Os ataques indianos incluíram alvos no Punjab, seus primeiros ataques à província mais populosa do Paquistão desde a última guerra em larga escala entre os adversários, há mais de 50 anos.
“Os alvos que havíamos estabelecido foram destruídos com exatidão, de acordo com uma estratégia bem planejada”, disse o Ministro da Defesa da Índia, Rajnath Singh, ao negar a morte de civis. “Demonstramos sensibilidade ao garantir que nenhuma população civil fosse afetada, nem de longe.”
Nova Déli afirma ainda que fogo de artilharia do país vizinho também fez vítimas -pelo menos 12 mortos e 38 feridos na cidade indiana de Poonch.
A crise atual teve início no último dia 22, quando um atentado terrorista cometido por um grupo armado que luta pela independência da Caxemira indiana vitimou 26 pessoas, a maioria hindus. A Índia culpou o grupo jihadista Lashkar-e-Taiba (LeT), sediado no Paquistão, embora ninguém tenha assumido a autoria do ataque.
A organização, designada como terrorista pela ONU, é suspeita de realizar ataques em Mumbai que deixaram 166 mortos em 2008.
Apesar de descrever os ataques desta semana como uma retaliação exitosa ao atentado, a Índia pode ter sofrido baixas durante a ação. Crescem as evidências de que pelo menos duas aeronaves teriam caído na Índia e no lado da Caxemira controlado pela Índia, de acordo com três autoridades, reportagens locais e relatos de testemunhas que viram os destroços de duas delas.
Uma autoridade indiana confirmou ao jornal americano The New York Times a queda de três aeronaves, mas afirmou que as razões não estavam claras. Duas outras autoridades de segurança indianas confirmaram relatos de que algumas aeronaves indianas haviam caído, mas não deram mais detalhes.
À agência de notícias Reuters, funcionários do governo da Caxemira indiana também disseram que três caças caíram em áreas distintas da região do Himalaia durante a noite, e que os três pilotos foram hospitalizados. Todos falaram sob condição de anonimato para discutir detalhes da ação militar.
A Caxemira é uma região de maioria muçulmana dividida entre a Índia e o Paquistão, que disputam o o local desde que eles conquistaram a independência do Reino Unido, em 1947. O ataque foi seguido por dias de trocas de tiros com armas de pequeno porte na fronteira entre os dois países.
O Paquistão também possui maioria muçulmana (96% da população), enquanto na Índia os hindus formam o principal grupo religioso (com cerca de 80%). Os dois países possuem armas nucleares.
As ameaças de uma retaliação da Índia se concretizaram na noite de terça, quando o governo indiano anunciou “ataques aéreos de precisão” na Caxemira paquistanesa e no estado fronteiriço de Punjab.
O porta-voz do Exército paquistanês, Ahmed Chaudhry, afirmou que o ataque, além de deixar mortos, causou danos severos à barragem e à usina hidrelétrica de Neelum-Jhelum. Já o ministro da Defesa do país, Khawaja Asif, acusou o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, de avançar contra o Paquistão para aumentar sua popularidade interna.
“As represálias já começaram”, disse ele à agência de notícias AFP. “Não vai demorar muito para empatarmos o placar”, alertou. De acordo com o porta-voz militar Chaudhry as forças paquistanesas abateram cinco caças indianos e um drone no espaço aéreo do país vizinho.
Em meio à violência, o Comitê de Segurança Nacional do Paquistão pediu à comunidade internacional nesta quarta que “reconheça a gravidade das ações ilegais e injustificadas da Índia e a responsabilize” por violar o direito internacional.
Desde 1989, a região da Caxemira é palco de uma insurgência daqueles que buscam independência ou anexação ao Paquistão e que, segundo Nova Déli, têm o apoio do país vizinho. O conflito não se limita à esfera militar. Horas antes dos atentados, Modi disse que seu governo interromperia o fluxo de água de seus rios para o Paquistão -o que consideraria “um ato de guerra”.
A tensão crescente é especialmente preocupante por envolver dois países que têm armas nucleares.
“O mundo não pode se dar ao luxo de um confronto militar entre a Índia e o Paquistão”, disse Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres. O secretário de Negócios britânico, Jonathan Reynolds, ofereceu a mediação do Reino Unido em eventuais conversas.
Os Estados Unidos, a China e a Rússia, por sua vez, pediram moderação de ambos os lados.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou que as duas partes deveriam reduzir a tensão para “evitar uma escalada maior”. Já um porta-voz diplomático chinês estimulou “paz e estabilidade”. “Mantenham a calma e evitem ações que possam complicar ainda mais a situação”, afirmou. A Rússia pediu “contenção para evitar maior deterioração” da situação.
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